A artista plástica e muralista Amanda Scalise trouxe para a cidade a arte que enaltece tanto a natureza quanto os saberes ancestrais dos povos indígenas
Arte de autoria da artista Amanda Scalise. Local: Avenida Tiradentes entre os números 604 e 590. Crédito: Amanda Scalise. |
Entre as idas e vindas na Avenida Tiradentes, buzinas e paradas de semáforos, nossa preocupação com a chegada ao destino quase não nos permite reparar nas singularidades presentes neste trajeto, e certos detalhes passam despercebidos.
E foi numa causalidade ocasionada por uma parada de trânsito, na confluência entre a Avenida Tiradentes com a Rua Abraham Lincoln, que avistei uma mulher pintando marcações utilizadas na técnica de arte em empena em um pequeno muro.
Parei o carro e cheguei perto da artista. No momento, a chamei pelo primeiro nome, Amanda, achando que se tratava de uma das artistas convidadas da série Arte Urbana em Guarulhos. Para minha surpresa, gentilmente parou seu trabalho e iniciamos uma conversa divertida sobre a casualidade.
Amanda Scalise chama a atenção por sua delicadeza, arte e experiência. A artista contou sobre sua trajetória na arte urbana, iniciada há dois anos na cidade de São Paulo.
Formada em Moda pela FMU, Scalise atuava na capital criando estampas têxteis. A experiência trouxe novas técnicas e despertou seu interesse pelas paredes. Amanda começou, primeiramente, intervindo em paredes nas casas de amigos como forma de se auto testar.
“A arte é liberdade, muitas vezes com valores e propostas de despertar a consciência”, afirmou.
Pesquisadora autodidata de saberes indígenas, Amanda Scalise viajou duas vezes para a Amazônia e conheceu os saberes medicinais.
“As viagens me tocaram de uma forma transformadora, mesmo com um contato raso, conheci povos indígenas, conheci através deles as medicinas da floresta”, ressaltou.
Acerca da sabedoria indígena, a artista faz referência aos conhecimentos, práticas e tradições transmitidos de geração em geração pelos povos originários de diferentes regiões do mundo. Este conhecimento abrange áreas como medicina natural, agrofloresta, cosmologia, ecologia, ancestralidade e arte.
E complementa:
“Trago artes não literais indígenas, me inspiro nos valores ancestrais dos saberes destes povos, a necessidade da floresta em pé, a medicina. A questão indígena dos saberes e da cultura trazem elementos da natureza dentro de uma forte conexão”.
Parte da arte em tela de autoria da artista Amanda Scalise, o coração de banana remete à ideia da natureza interna do corpo humano. Crédito: Amanda Scalise. |
Nas obras de Scalise, o coração humano foi substituído por “um coração de banana”, a flor da bananeira, como forma de trazer uma ideia de que a natureza não é externa, ela mora dentro de nós.
A arte traz como concepção o renascer das cinzas, uma fênix que voa nas asas do espírito, simbolizando uma vida de beleza e paz. Florianópolis, 2023. Crédito: Amanda Scalise. |
A silhueta feminina presente nas suas intervenções urbanas representa uma mulher afogada no meio da cidade, em que a cor cinza simboliza a morte e o distanciamento da própria natureza, enquanto as folhas representam a vida que ressurge por trás dela.
Intervenção artística visual intitulada “Contrastes e Origens de SP”. Paribar, 2021. Crédito: Amanda Scalise. |
Além da arte urbana, Amanda Scalise é artista plástica e designer de interiores. Em 2021, ela fez intervenções no Paribar, histórico bar paulistano frequentado por artistas modernistas e escritores como Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Cândido Portinari e Sérgio Milliet (que tinha uma mesa cativa por lá).
O Paribar, reduto boêmio com mais de 70 anos de história no centro da capital, encerrou suas atividades em 26 de setembro de 2022.
Amanda finaliza nossa entrevista falando sobre a importância de reconhecer e valorizar o conhecimento indígena "como uma forma valiosa de conhecimento e cultura", e trabalha para preservar e promover esse conhecimento por onde quer que passe.
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