Há alguns meses, explorando a cidade por meio da pesquisa de arte, como uma consumidora leiga de cultura, conheci o Circo
Perdida, em busca de um palhaço!
Já havia escrito uma matéria sobre o curso de palhaçaria do Espaço Revoada, em agosto do ano passado, quando o BTW ainda era apenas um blog, e a curiosidade por este assunto tomou conta de mim.
Com o crescimento do BTW GRU e a oportunidade de expandir as reportagens externas, comecei a cobrir as atividades lúdicas na Praça de Convivência do Sesc Guarulhos e, por coincidência, conheci vários artistas circenses.
No entanto, trago em mim a faceta de educadora, aliada à de comunicadora (vamos chamá-la assim, já que minha maior experiência é como redatora e, graças ao BTW, o jornalismo foi retomado), o que significa não deixar para trás um artista que possa enriquecer uma reportagem no BTW, assim como um aluno, a quem sempre dedicamos esforços para alcançar o sucesso.
Em um
fim de semana de fevereiro de 2023, devido a compromissos familiares, acabei
perdendo a apresentação de um artista da cultura circense que estava realizando seu
espetáculo de palhaçaria no Sesc Guarulhos.
Remoída por esse pequeno contratempo, procurei no perfil do
palhaço sua agenda de apresentações e, por coincidência, ele estava se
apresentando em uma lona montada nas proximidades do Sesc. Não perdi tempo e entrei em contato
com o responsável pela lona, e é a partir desse momento que nossa história teve
início.
Nunca havia entrado em um ambiente como aquele, exceto em um
certo momento nos anos 90, quando levei minha irmã para assistir ao show da
Eliana, cantando 'polegares' e seus outros dedos, em um pequeno Circo instalado
no campo de futebol do Seu Tico, na região do Jardim Testai. Nesta fase adulta,
via os circos instalados na cidade de São Paulo e aqui em Guarulhos,
e nunca passou pela minha mente assistir a uma apresentação, devido aos
compromissos relacionados à educação e à minha atividade como redatora.
E foi neste contato, em busca de um palhaço que estava
'perdido' para uma reportagem, que o proprietário da lona me fez um convite
que, para mim, foi inusitado e, ao mesmo tempo, despertou minha curiosidade:
conhecer o Circo!
Não pensei duas vezes, dirigi-me até a lona e fui
surpreendida por aquele ambiente. Primeiro, pela apresentação: todos se
identificavam como uma família circense, e a tradição estava presente em uma
arte transmitida de geração em geração.
E nosso anfitrião me recebeu com um sorriso, dando a notícia de que o palhaço que eu estava procurando não estava mais se apresentando, mas que eu poderia ficar no espetáculo e conhecer os artistas. Claro que aceitei, ainda mais com a oportunidade de conhecer os bastidores, um lugar pelo qual sempre tive fascínio.
Lá, encontrei artistas de idades variadas e até mesmo um
parente de Dedé Santana, que compartilhou sua história sobre a vida sob a lona,
a família e a felicidade de ver seu filho e nora partindo rumo aos Estados
Unidos para se apresentarem em um Circo, se não me engano, na Flórida.
E a conversa rendeu, tarde adentro, novas oportunidades para
estar ali presente mais vezes. E assim, inicio uma jornada de descobertas neste país, que ao mesmo tempo, traz a magia do espetáculo enquanto enfrenta dificuldades
para manter a arte viva, seja por questões econômicas ou seja por intempéries
da natureza.
E, entre nossas conversas, em um mês marcado pelas altas
temperaturas do verão, a lona aquecida não diminuía minha vontade de conhecer a
história por trás do espetáculo. Queria saber como era a vida ali, como a lona
era erguida, como se conectava uma fonte de energia ou mesmo como explicar a um
engenheiro a maneira de fixar a lona no terreno, cavando o 'morto'! Este termo
é usado para uma espécie de cova, para fincar um pontalete enorme que segura os cabos de aço de sustentação da lona.
Uma estrangeira no país Circo
A fim de buscar respostas para minhas curiosidades e, ao mesmo tempo, manter o desejo de pesquisar a cultura andina, sou novamente surpreendida pelo conhecimento do anfitrião, ou melhor, pelo anfitrião circense, vamos chamá-lo assim. Em nossa primeira conversa, entre minhas perguntas simples, fui surpreendida com seu conhecimento desta cultura, mais especificamente, a boliviana.
E o ápice de nossa conversa foi sua
formação! Ele tinha frequentado quase cem escolas e, na fase adulta, havia
acabado de defender uma tese de mestrado sobre os pintores modernistas que
retrataram o Circo. Claro, como educadora, fiquei sem palavras.
No contexto escolar, raramente recebemos circenses para uma
breve permanência em sala de aula, e eles partem sem tempo para dizer adeus. Não sabemos qual será o destino deles, nem se encerraram seus ciclos na
educação.
Mas a vida deles estava voltada para o Circo, enquanto eu,
vinda de um mundo externo exigente e com conhecimentos multifacetados, poderia
ser algo difícil de ser compreendido. Preferi me manter apenas como uma
comunicadora, uma estrangeira que passaria um tempo por lá, tentando
compreender a vida cotidiana deste país, deixando meu papel de educadora
adormecido.
E deste cotidiano, pelas mãos deste circense, finalmente, na breve estadia em seu país, foi possível compreender melhor a forma como tudo emerge ao grande público, que assiste o espetáculo sem perceber que os que estão ali, passam por vários estágios, ensaios e exaustivas andanças pelo bairro entregando panfletos. A cada intervalo de sessão, eles trocam seus figurinos para realizar vendas e, assim, agregar receita para manter o espetáculo, além de cuidar das tarefas de manutenção do espaço.
A praça de alimentação também é um espaço de alternância entre a performance e o atendimento ao público. Não há pessoas, como em um comércio tradicional, que são remuneradas para atender clientes; os circenses desempenham múltiplas tarefas.
Um palhaço entra em cena fazendo suas graças e depois volta para vender balões. Um malabarista pode aparecer vestido de macaco ou de algum personagem conhecido pelo público infantil. Até mesmo uma jovem que acabou de se apresentar em sua lira pode ser vista vendendo pipoca, ou registrando com sua câmera fotográfica, a felicidade das famílias que estão ali para prestigiar o espetáculo.
E aquele ritmo conciso e ao mesmo tempo, uníssono, em cerca
de uma hora de espetáculo, passa despercebido do público, ao final da sessão, o
circense ainda tem o árduo trabalho de limpar o local, recolher equipamentos e
ver se o espaço está em ordem para novamente receber o público.
A cada intervalo de sessão, o anfitrião circense sentava-se ao meu lado. Com sua simplicidade, ele descrevia a cena, como se soubesse que na minha cabeça habitavam muitas indagações.
E neste movimento, conheci artistas circenses que estavam de passagem na lona, ou aqueles que vinham apenas para se apresentar em um dia de sessão. Ao mesmo tempo, conheci suas histórias, e um ponto curioso é que a maioria dos casais se formaram neste meio.
Um casal de palhaços, está entre os que mais despertou meu lado romântico. Desde a juventude, ela, uma trapezista, e ele, um palhaço, se conheceram em uma itinerância e casaram-se. Agora, aposentados, retornam ao Circo como um casal de palhaços, usando um figurino diferente a cada apresentação. E com seu rosto caracterizado, antes de atravessar as cortinas, eis que o palhaço deixa uma fala: "Este é o meu trabalho, e devo estar sempre muito bem arrumado, como se estivesse vestindo um terno".
O anfitrião circense se desdobrava ao lado de seus
familiares para manter o espetáculo vivo. Aparecia repentinamente diante de
mim, percebendo mais uma vez que na minha cabeça habitavam muitas indagações.
É hora de partir
A itinerância faz parte do Circo, e nesse movimento,
despede-se da terra guarulhense rumo à capital, mas isso não significou, para
mim, um adeus. Minha atuação na capital é mais intensa do que aqui na cidade,
e, para minha sorte, eles instalaram a lona bem no bairro que, de certa forma,
conheço e onde tenho alguns bons colegas comunicadores atuando.
E eis que retorno em uma curta visita ao país, para
uma celebração ao Dia do Circo e ao mesmo tempo, espairecer um pouco e deixar
de lado o meu ritmo frenético workaholic. E digo, como é muito bom quebrar a
rotina, parece que as boas energias do lugar retiraram do meu ser o peso dos
problemas, devolvendo a leveza para enfrentar uma situação que meus amigos mais
próximos elogiaram dias após, a minha destreza e sapiência, ou seja, o Circo trouxe um refresco para a minha saúde mental e forças nestes enfrentamentos cotidianos.
Nosso anfitrião circense, por outro lado, estava um pouco mais
distante, pois enfrentava seus próprios desafios naquela nova praça. Das poucas
vezes em que conversamos, eu percebia seu cansaço e preocupações, mesmo que
isso faça parte de sua atividade. Iniciar em uma nova praça é sempre um momento
de incertezas.
Na área da comunicação, seja nas atividades de redação, assessoria ou jornalismo, mantemos uma ampla rede de contatos, incluindo parcerias com vários jornais e portais, o que nos permite expandir nossas conversas com colegas e colaboradores.
Foi em certo momento que soube de uma jovem circense que percorria a região onde a lona estava montada, realizando performances e distribuindo panfletos para convidar todos a assistir ao espetáculo. Ao tomar conhecimento dessa informação, não hesitei, e para mim, representava uma oportunidade de retribuir a hospitalidade que recebi.
Entrei em contato com um colega jornalista de um portal de notícias de grande relevância na região, que gentilmente cedeu espaço para uma matéria sobre o espetáculo, proporcionando assim uma valiosa publicidade sem custos.
E voltei à lona para mais uma visita rápida. Para minha alegria, com a voz única e imponente do mestre de cerimônias, que também é malabarista, ele anunciou ao público presente os agradecimentos pelo apoio do jornal local. Transmiti os agradecimentos ao colega no dia seguinte, e ele fez um comentário: "Circo sempre cedemos espaço, é uma arte difícil de manter viva".
Terras guarulhenses, eis que o Circo está de volta!
Ainda na capital, o processo de mudança já havia sido iniciado. As últimas sessões sempre são marcadas pela ausência do grand estadium, uma arquibancada desmontável, e as cadeiras são enfileiradas no chão. O palco é recolhido, e um grande tapete redondo ocupa o seu lugar. Nesta etapa, sempre sinto um pouco de tristeza, pois é um momento de despedida.
Porém, o retorno às terras guarulhenses trouxe uma nova perspectiva. A região escolhida para a nova temporada foi justamente o bairro onde atuei como educadora por mais tempo e onde conheço praticamente toda a população. São amigos que conhecem a minha mente multifacetada e que também foram, muitas vezes, personagens das minhas reportagens.
Neste retorno, pensei que seria o momento de eles conhecerem a minha experiência e o meu mundo. Deixarei isso para contar no próximo tópico.
Multi, pluri, workaholics, tudo junto e misturado
Como no início, deixei adormecido o ser educador. De volta às terras guarulhenses, achei que seria a oportunidade do anfitrião circense conhecer esse meu outro lado, cheio de nuances e ambientes que não é possível contextualizar em "um verso em prosa".
Ao contrário, estar imerso na realidade da educação deve ser forte e desafiador. Temos nossos próprios enfrentamentos, e lidamos com um grande número de pessoas de várias idades e personalidades. Ao mesmo tempo, emergem políticas públicas e mudanças regulatórias constantes. A cada dia, surgem decretos, resoluções e normas reguladoras, em um ciclo infinito.
Ainda na capital, apresentei a ideia de colaboração, oferecendo apoio da marca neste retorno do Circo à Guarulhos, os folhetos impressos trariam a informação e na contrapartida, faria a parte da assessoria. E devo dizer que a ideia inicial era excelente, só precisávamos colocá-la em prática. Se considerarmos a ativação de marca, a itinerância pode ser vantajosa devido ao grande número de pessoas presentes em cada praça, cria uma oportunidade significativa para as marcas gerarem leads. Fica a dica!
Entre a montagem da lona e a espera pelo retorno do anfitrião circense, coloquei em prática toda a minha experiência como redatora. Quem me conhece sabe que costumo dizer que sou uma redatora-jornalista que vai além da pauta! Escrevo de forma criativa, otimizada para SEO e alinhada à análise do público-alvo, que, demograficamente, estava em vantagem nesta região, devido à minha convivência e aos muitos contatos.
Na nossa linguagem, isso se traduz em um verdadeiro plano de marketing eficaz, que inclui um acompanhamento constante, também conhecido como 'follow-up', visando criar um relacionamento com o novo público. Além disso, entrei em contato com vários amigos gestores escolares para informá-los sobre a chegada do Circo nas proximidades.
E mostrei ao circense um pouco do meu país, onde falamos de
vários temas ao mesmo tempo, em uma rede solidária, e como enfrentamos os
percalços do dia a dia, misturados entre as cobranças de metas, o conteúdo a
ser ensinado e as atividades externas. Muitos educadores também desempenham outras atividades para complementar a renda, incluindo advogados, médicos, técnicos e proprietários de pequenos negócios.
Manter uma lona, as famílias que ali residem e a incerteza da localização não desanimam os circenses; pelo contrário, é a forma como enxergam esta arte que os mantém unidos entre a força e o sonho neste país, o Circo.
Foi uma experiência maravilhosa, um dia em que sua companhia me fez refletir sobre as diferenças entre nossos meios.
Quem sabe, em uma próxima oportunidade, ou mediante um convite, possa vislumbrar. A questão é, em qual país seria isso?
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