Na tarde chuvosa de 8 de novembro, recebi o casal de palhaços Raul Hernando Robayo, o Pepin, e Maria Isidora Duran Gutierrez, a Florcita, no espaço de O Mundo do Circo. A conversa, como uma boa prosa, foi embalada por histórias e lembranças da longa trajetória circense dessa dupla, que, com graça e afeto, compartilhou sua caminhada dedicada ao riso e à arte.
Meu primeiro encontro com os artistas aconteceu ainda em Guarulhos, sob a lona de um circo no Cecap. E desde então não perdemos contato.
Raul e Maria se conheceram num circo na Bolívia e seguiram juntos para o Brasil, acompanhados pela família de Maria. Ele, nascido no México, e ela, no Chile, traziam consigo a tradição de suas famílias circenses. “Maria nasceu no circo, lá no Chile. A família dela é toda de circo; o pai dela fazia número com argolas. Meu pai também trabalhava no circo”, relembra Pepin, emocionado.
Florcita recorda sua infância no picadeiro: “Eu nasci e cresci no circo. Desde os seis anos, já estava sendo preparada, primeiro com dança, e depois me dediquei a contorção. Com minhas irmãs, formamos um grupo. Quando completei 15 anos, comecei a fazer o número de cordas com elas misturando com a contorção.”
Pepin e Florcita. Crédito: Reprodução/Instagram
No Brasil, o casal se apresentou em diversas lonas. Pepin sempre atuou como palhaço, enquanto Maria, ao lado das irmãs, realizava números aéreos. Em algumas apresentações, Pepin também a auxiliava, girando-a com o pé amarrado em uma corda, de cabeça para baixo, ao som de melodias clássicas, em uma performance que mesclava balé e acrobacia.
Há mais de quatro décadas na palhaçaria, Pepin e Florcita iniciaram sua parceria profissional em circunstâncias inusitadas. Maria precisou mudar de atuação após sofrer um grave acidente durante uma apresentação de corda com sua irmã, no qual lesionou o quadril.
Após um período afastada dos palcos e vivendo em São Paulo, Raul soube de uma oportunidade para palhaços no Parque da Água Branca, nos anos 80. Incentivada por ele, Maria decidiu retornar à arte circense e se juntar a Pepin, dando origem à palhaça Florcita. Para Pepin, aquele momento representava a chance de ambos se dedicarem novamente à arte que tanto amam.
Desde então, a parceria tornou-se um sucesso, e Pepin e Florcita passaram a ser reconhecidos no Brasil e no exterior, levando sua arte a países como Canadá e outros da América Latina. Encantando públicos de todas as idades, Pepin e Florcita mostram que, para o circo, não existem fronteiras. “O circo não tem fronteiras, assim como o mar também não tem”, conclui Pepin, com um sorriso e o olhar de quem vive a essência do circo.
A trajetória de Pepin e Florcita prova que a arte circense é, antes de tudo, uma história de amor e resistência.